Livro Modernização Reflexiva

Contrapondo-se a uma grande gama de autores para os quais a dissolução do socialismo extinguiu também o espaço para programas políticos ativos nas sociedades contemporâneas, Anthony Giddens, Ulrich Beck e Scott Lash negam a apregoada paralisia política.

Segundo os autores, ocorre mais ou menos o contrário: “O mundo da reflexividade desenvolvida, em que a interrogação das formas sociais torna-se lugar-comum, é um mundo que em muitos casos estimula a crítica ativa”, afirmam, na apresentação desta obra.

Constituído de três ensaios independentes sobre aspectos da modernização reflexiva, um por autor, o livro traz ainda repostas críticas de cada pensador aos textos dos outros dois. Além da reflexividade, conceito que segundo eles caracteriza o mundo contemporâneo ou pós-moderno, os autores abordam outros temas comuns.

Um desses temas é a noção de destradicionalização, empregada não para fazer apologia a uma sociedade sem tradições, mas para falar de uma ordem social em que a tradição muda seu status.

“Em um contexto de cosmopolitanismo global, as tradições precisam se defender, pois estão sempre sendo contestadas”, escrevem. A preocupação com questões ecológicas – que, afirmam, não podem ser simplesmente reduzidas a uma preocupação com o “ambiente” – é o terceiro tema enfocado pelos três pensadores.

Para eles, tais questões só foram levantadas porque o “ambiente” já não se separa da vida social humana, mas é penetrado e reordenado por ela de modo completo. Hoje, afirmam, os mundos social e natural estão influenciados totalmente pelo conhecimento humano reflexivo.

Mas isso não leva a um cenário em que os cidadãos possam ser, coletivamente, donos de seu destino. “Muito ao contrário: o futuro se parece cada vez menos com o passado e, em alguns aspectos básicos, tem se tornado muito ameaçador”.

Assim, não há mais garantia de sobrevivência como espécie, mesmo no curto prazo, e a noção de “risco” tornou-se fundamental para a cultura moderna. São estas as circunstâncias que produzem transições importantes e interativas na vida cotidiana, nas várias esferas de organização social e das estruturas dos sistemas globais.

Em tal ambiente, o sistema político formal deixa de ser fonte de mudanças ou tomadas de decisão políticas, que passam elas mesmas a moldar e ajudar a redefinir o caráter da ordem política ortodoxa.

Trata-se do contrário, portanto, à paralisia política.