"Mas que pode opor um único homem à dimensão monstruosa do assassinato organizado pelo Estado? Como pode deter a demência da massa se massacrando? (...) A história não tem final.
Desde o início dos tempos sempre houve fogueiras de violência destrutiva. E também sempre houve o fogo do espírito para purificar o dano, conjurando-o por meio da arte, que é mais forte que a morte." Augusto Roa Bastos Há mais de 130 anos, no auge da Guerra do Paraguai, argentinos, brasileiros, paraguaios e uruguaios esqueceram as eventuais diferenças e se uniram numa comunidade.
Eram os conjurados do quilombo del Gran Chaco: soldados, civis e oficiais que desertaram tanto do exército paraguaio de Solano López, quanto das forças de Brasil, Argentina e Uruguai, unidos na Tríplice Aliança.
Hoje, a aliança se repete e o paraguaio Augusto Roa Bastos - vencedor do prêmio Cervantes, mais importante honra literária entre países latinos -, o uruguaio Omar Prego Gadea, o brasileiro Eric Nepomuceno e o argentino Alejandro Maciel juntam-se para contar essa história em O Livro Da Guerra Grande.
A Guerra do Paraguai (1865-1870), conhecida na época como a Guerra Grande, matou perto de 76% da população paraguaia, este número correspondendo a 96% dos homens do país, e transformou uma das primeiras democracias sul-americanas em uma nação sucateada, que até hoje não se recuperou.
Maior conflito armado ocorrido na América do Sul, a guerra foi o desfecho inevitável das lutas travadas durante quase dois séculos entre Portugal e Espanha e, depois, entre Brasil e as repúblicas hispano-americanas pela hegemonia na região do Prata.
Os países envolvidos no conflito - hoje unidos no Mercosul, numa guerra contra a hegemonia dos países ricos no mercado internacional - arrastaram durante anos as conseqüências dessa contenda. O Livro Da Guerra Grande tem por base as cartas que sir Richard Francis Burton, cônsul itinerante do Império Britânico, teria escrito para a rainha.
A trama central se desenvolve a partir de uma menção feita por Burton, em uma de suas missivas, a um esconderijo onde brasileiros e argentinos, paraguaios e uruguaios viviam em harmonia.
Os relatos são exercícios com intenções mais estéticas que históricas, cujo eixo são retratos de personagens arquetípicos: o pintor de guerra, o general onipotente, o marechal inimigo. Seu heroísmo, sua ambição, as amizades e traições funcionando, ao mesmo tempo, como uma metáfora de seus próprios países.
Em O Livro Da Guerra Grande, escrito a oito mãos, os autores conseguem mesclar ficção e realidade histórica: o diálogo entre o general Mitre e seu lugar-tenente, o pintor Cândido López; o último período de resistência do marechal Solano López e sua esposa, Madame Lynch; a deserção do capitão argentino Francisco Paunero; os arquivos secretos do general uruguaio Rocha Delipiane e a suposta existência do VII Barão de Ramalho, descendente de um dos conjurados del quilombo del Gran Chaco.
As diferentes versões para cada ação - dados por cada um dos escritores - longe de se contradizerem, enriquecem os relatos e diminuem a linha entre realidade e ficção, desnudando um dos principais acontecimentos da história latino-americana.
Augusto Roa Bastos nasceu em Assunção, Paraguai, em 1917. Um dos grandes mestres da literatura latino-americana, recebeu o Prêmio Cervantes em 1989. Publicou Eu, o Supremo, Hijo del hombre, El baldío, Madera quemada, Los pies sobre el agua, Moriencia, Cuerpo presente, Contar un cuento y otros relatos, Vigilia del Almirante, El Fiscal, Contravida, Madama Sui.
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Autor(es) | |
Editora | Record |
Idioma | Português |
ISBN | 8501061107 9788501061102 |
Formato | Capa comum |
Páginas | 238 |
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